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sábado, 19 de abril de 2014

angústia do colapso

me fale sobre ritmo e convergência.
me fale sobre como as coisas se encontram e se encaixam.
me fale que vai chover e virão aquelas flores.
me fale da paciência, da esperança, de como controlar tanta ansiedade de amanhã.
me fale sobre como não renunciar, desistir, resignar, negar, fechar, evitar.

eu te falo que não sei quem sou,
eu não sei quem sou e tenho medo de não sabê-lo nunca.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

uma mulher caminha pela cidade. uma mulher no seu cotidiano de expurgar a dor caminha pela cidade sem destino. caminha com  brasília de mãos dadas. caminha sem saber pra onde, nem como e nem quando irá parar. observa o tempo no balançar do parquinho na 402 norte. o tempo foi deixando de existir e o silêncio manso ocupou o vazio do corpo da mulher. uma mulher se perde no meio da noite. e por se perder vai se lembrando da folha que cai. 

quarta-feira, 16 de abril de 2014

E nos meios e entres desse vazio de que tanto falamos e tentamos escapar, porque a solidão amedronta mais que tudo, seja pobre, rico, brasileiro ou chinês, as fagulhas de alegria. os momentos de barriga cheia de esperança. Vale correr, pular, fazer uma ligação de gratidão, um vinho tinto, dançar a dois, sozinho, uma lua bem cheia, qualquer coisa. A tristeza é produtiva mas ela não tem fim, a felicidade sim. Por isso o mergulho arriscado, porque ela voa como pluma e passa. Tão rápido. E não está aí dentro do celular, mesmo dormindo e acordando com esse querido mas duro companheiro. Um outro corpo é necessário? Felicidade não tem muita graça se não compartilhada... É bom dizer, mas dizer não significa vender ou filtrar pra mostrar para o mundo como se está feliz. Dizer pra quem? Por que? Não se ama só por inbox, não se vê estrelas cadentes rolando a linha do tempo, não se desvenda alguém, mesmo que haja olho no olho via webcam. O que quero dizer é que a gente se esfrega e se enche de vida, pra depois cair num tédio infinito de morte, e como robôs andar por aí banalizando tudo, e de repente um sopro de novo, um encontro, um leãozinho, uma música africana, ser mãe, e de novo a ansiedade e a busca, o labirinto, a miséria. O buraco vai sempre existir, mas também o impulso vital, eros. Post it: Não perder a capacidade de se encantar com as coisas.

http://awebic.com/pessoas/experimento-felicidade-gratidao/

quarta-feira, 9 de abril de 2014

"Vivemos em um mundo desagradável, onde não apenas as pessoas, mas os poderes estabelecidos têm interesse em nos comunicar afetos tristes. A tristeza, os afetos tristes são todos aqueles que diminuem nossa potência de agir. Os poderes estabelecidos têm necessidade de nossas tristezas para fazer de nós escravos. O tirano, o padre, os pastores, os gurus, os tomadores de almas, têm necessidade de nos persuadir que a vida é dura e pesada. Os poderes têm menos necessidade de nos reprimir do que de nos angustiar, ou, como diz Virilio, de administrar e organizar nossos pequenos terrores íntimos. A longa lamentação universal sobre a vida: a falta de ser que é a vida... Por mais que se diga "dancemos", não se fica alegre. Por mais que se diga "que infelicidade a morte", teria sido preciso viver para ter alguma coisa a perder. Os doentes, tanto da alma quanto do corpo, não nos largarão, vampiros, enquanto não nos tiverem comunicado sua neurose e sua angústia, sua castração bem amada, o ressentimento contra a vida, o imundo contágio". - (G. Deleuze e C. Parnet in Diálogos)

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Em que mundo: esse. Assim: como?

Estou imerso no pensamento, como estou meio longe dos trabalhos, fico lendo, fico pensando. Pensando. Pensando nos urbanóides e na vida humana de hoje. Fico bêbado pensando. Fico pensando no metrô. Estou pensando que isso que estamos vivendo, dessa forma e nessa intensidade e nessa quantidade de pessoas é também apenas uma maneira de se viver. Falta algo (água?) na vida de um só ou de todo mundo? É muito, perceber que está TUDO errado? Errado implica o certo em algum onde? Penso em escrever, mas tenho encontrado algumas coisas de algumas pessoas que falam isso muito melhor do que eu. Queria dividir:

Em "O que é loucura?", de João Frayze-Pereira, que por acaso achei pra folhear no banheiro. Os negritos são meus.

"Devereux afirma: 'considero a esquizofrenia quase incurável, não porque seja devida a fatores orgânicos, mas porque seus principais sintomas são sistematicamente encorajados pelos valores mais característicos, mais importantes da nossa civilização.' Por exemplo: a impessoalidade das relações humanas; a indiferença afetiva e o isolamento aos quais o indivíduo está sujeito em nossas cidades industriais; a vida sexual destituída de afetividade e reduzida ao coito; a fragmentação da coerência de nossa conduta cotidiana devida ao fato de pertencermos e atuarmos em diversos grupos que nos impõem papéis contraditórios; a invasão de nossa vida rotineira pelo ideal científico da objetividade, criador de um pseudo-racionalismo, pretensamente oposto ao nosso imaginário; a perda de sentimento de sermos cada vez mais possuídos e manipulados por forças poderosas das quais dependemos e contra as quais nada podemos; confrontação com uma violência tecnológica ilimitada e com a morte desritualizada, absurda, etc. O homem moderno assimila o modelo esquizóide num mundo que o constrange e no qual vive como um estranho: nele não pode reconhecer sua humanidade. Portanto, a esquizofrenia, cuja lógica tem a ver com a fragmentação e perda da identidade pessoal, é, deste ponto de vista, uma categoria sociológica."

E em "Produção de presença", que no ano passado comecei a ler e comentei com o grupo, depois perdi na xerox do multiuso (aquela história, Giselle, achei aqui no Rio pra comprar finalmente...):

"Este livro assume o compromisso de lutar contra a tendência da cultura contemporânea de abandonar, e até esquecer, a possibilidade de uma relação com o mundo fundada na presença. Mais especificamente, assume o compromisso de lutar contra a diminuição sistemática da presença e contra a centralidade incontestada da interpretação nas disciplinas do que chamamos"Artes e Humanidades".Se é verdade que se pode descrever a moderna cultura ocidental (incluindo nela a cultura contemporânea) como um processo gradual de abandono e esquecimento da presença, também é verdade que alguns"efeitos especiais" produzidos hoje pelas tecnologias de comunicação mais avançadas podem revelar-se úteis no re-despertar do desejo de presença. (...) No entanto, só os efeitos de presença apelam aos sentidos por isso as reações que provocam não têm nada a ver com Eitifiihlungisto é, com imaginar o que se passa no pensamento da outra pessoa."

Pra mim é legal pensar presença vinculado a algo que está posto, que foi colocado e que foi colocado como expressão, passando necessariamente pela materialidade do corpo,,,,,,, ou seja,,,,, estar presente nesse sentido é colocar isso para adiante, para fora, à vista. O conceito de "produção de presença" toma produção inclusive exatamente nesse sentido: "de sua raiz etimológica - producere - que se refere ao ato de trazer para adiante". Penso nisso e penso no processo de dessensibilização do mundo, apático, frio... fragmentado em complexos seres-ilha, cada vez mais em si, em sua lógica, em sua cosmovisão. A falta de algo não estaria ligada à falta de exteriorização das coisas? Falta expressividade para o inapreensível... me lembro disso em um texto chamado Ver o invisível do Nelson Brissac (o Zé Reis conhece e tem esse texto): marcas expressivas do inapreensível. Que nem a sacola voando em Beleza Americana, uma marca expressiva de uma bela ideia. A diferença é que a ideia, neste sentido, falta. E a sacola, o vento, a chuva, o filme ou a dança, CLARO, estão expressos.


Só refletindo... aí vi essa música do Gilberto Gil de 1998:
http://letras.mus.br/gilberto-gil/585510/

E assim vai... Salve o IPEA!

quinta-feira, 3 de abril de 2014

enquanto ela faltava a aula de hoje.

ela pintava a unha de roxo enquanto chorava. enquanto chorava tentava não misturar o esmalte com choro que lhe caía do rosto. tentava não misturar a lágrima do rosto com a pintura do esmalte fresco, que tanto pintava.