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sexta-feira, 4 de abril de 2014

Em que mundo: esse. Assim: como?

Estou imerso no pensamento, como estou meio longe dos trabalhos, fico lendo, fico pensando. Pensando. Pensando nos urbanóides e na vida humana de hoje. Fico bêbado pensando. Fico pensando no metrô. Estou pensando que isso que estamos vivendo, dessa forma e nessa intensidade e nessa quantidade de pessoas é também apenas uma maneira de se viver. Falta algo (água?) na vida de um só ou de todo mundo? É muito, perceber que está TUDO errado? Errado implica o certo em algum onde? Penso em escrever, mas tenho encontrado algumas coisas de algumas pessoas que falam isso muito melhor do que eu. Queria dividir:

Em "O que é loucura?", de João Frayze-Pereira, que por acaso achei pra folhear no banheiro. Os negritos são meus.

"Devereux afirma: 'considero a esquizofrenia quase incurável, não porque seja devida a fatores orgânicos, mas porque seus principais sintomas são sistematicamente encorajados pelos valores mais característicos, mais importantes da nossa civilização.' Por exemplo: a impessoalidade das relações humanas; a indiferença afetiva e o isolamento aos quais o indivíduo está sujeito em nossas cidades industriais; a vida sexual destituída de afetividade e reduzida ao coito; a fragmentação da coerência de nossa conduta cotidiana devida ao fato de pertencermos e atuarmos em diversos grupos que nos impõem papéis contraditórios; a invasão de nossa vida rotineira pelo ideal científico da objetividade, criador de um pseudo-racionalismo, pretensamente oposto ao nosso imaginário; a perda de sentimento de sermos cada vez mais possuídos e manipulados por forças poderosas das quais dependemos e contra as quais nada podemos; confrontação com uma violência tecnológica ilimitada e com a morte desritualizada, absurda, etc. O homem moderno assimila o modelo esquizóide num mundo que o constrange e no qual vive como um estranho: nele não pode reconhecer sua humanidade. Portanto, a esquizofrenia, cuja lógica tem a ver com a fragmentação e perda da identidade pessoal, é, deste ponto de vista, uma categoria sociológica."

E em "Produção de presença", que no ano passado comecei a ler e comentei com o grupo, depois perdi na xerox do multiuso (aquela história, Giselle, achei aqui no Rio pra comprar finalmente...):

"Este livro assume o compromisso de lutar contra a tendência da cultura contemporânea de abandonar, e até esquecer, a possibilidade de uma relação com o mundo fundada na presença. Mais especificamente, assume o compromisso de lutar contra a diminuição sistemática da presença e contra a centralidade incontestada da interpretação nas disciplinas do que chamamos"Artes e Humanidades".Se é verdade que se pode descrever a moderna cultura ocidental (incluindo nela a cultura contemporânea) como um processo gradual de abandono e esquecimento da presença, também é verdade que alguns"efeitos especiais" produzidos hoje pelas tecnologias de comunicação mais avançadas podem revelar-se úteis no re-despertar do desejo de presença. (...) No entanto, só os efeitos de presença apelam aos sentidos por isso as reações que provocam não têm nada a ver com Eitifiihlungisto é, com imaginar o que se passa no pensamento da outra pessoa."

Pra mim é legal pensar presença vinculado a algo que está posto, que foi colocado e que foi colocado como expressão, passando necessariamente pela materialidade do corpo,,,,,,, ou seja,,,,, estar presente nesse sentido é colocar isso para adiante, para fora, à vista. O conceito de "produção de presença" toma produção inclusive exatamente nesse sentido: "de sua raiz etimológica - producere - que se refere ao ato de trazer para adiante". Penso nisso e penso no processo de dessensibilização do mundo, apático, frio... fragmentado em complexos seres-ilha, cada vez mais em si, em sua lógica, em sua cosmovisão. A falta de algo não estaria ligada à falta de exteriorização das coisas? Falta expressividade para o inapreensível... me lembro disso em um texto chamado Ver o invisível do Nelson Brissac (o Zé Reis conhece e tem esse texto): marcas expressivas do inapreensível. Que nem a sacola voando em Beleza Americana, uma marca expressiva de uma bela ideia. A diferença é que a ideia, neste sentido, falta. E a sacola, o vento, a chuva, o filme ou a dança, CLARO, estão expressos.


Só refletindo... aí vi essa música do Gilberto Gil de 1998:
http://letras.mus.br/gilberto-gil/585510/

E assim vai... Salve o IPEA!

Um comentário:

  1. Tô louca pra comentar isso! Mas espera! Tenho que ter tempo! Já já.

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